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segunda-feira, 16 de maio de 2011

Ler sempre


Queridos leitores do blog
Hoje tenho muito prazer em trazer para vocês uma entrevista com a Carla Kühlewein do Leiturinhas que nos presenteou com opiniões e dicas sobre o maravilhoso ato de LER.

Carla, antes de conversarmos sobre leitura, nos fala um pouquinho de você :
    Nasci em Santa Isabel, São Paulo, mas com apenas seis meses de idade vim com minha família para uma pequena cidade do interior do Paraná, Rolândia, onde resido atualmente. Contrariando a vontade de minha mãe, que sonhava em ter uma filha médica, cursei a Faculdade de Letras Vernáculas e Clássicas na Universidade Estadual de Londrina (UEL). Ainda posso sentir o gosto na boca da formatura, foi um dia deliciosamente feliz. De lá segui com os estudos acadêmicos. Fiz o Mestrado em Teoria Literária e Literatura Comparada na UNESP, em Assis. Pós-graduada, decidi seguir a carreira de docente, mas quis o destino que eu mantivesse uma experiência paralela com revisão em editoras, outra paixão avassaladora. Atualmente atuo na área docente e procuro manter a inspiração artística viva com a produção frequente de artigos para sites e eventos de abrangência regional e nacional. Sempre fui companheira da leitura, mas a escrita, sem dúvida, tem sido minha experiência mais edificante.

 O que é mais legal quando se lê?

Alberto Manguel, ensaísta argentino radicado no Brasil, em entrevista à Revista Língua Portuguesa destaca que “Nossa espécie (humana) desenvolveu a imaginação, uma forma de construir o mundo antes de experimentá-lo”. Há várias sensações prazerosas que a leitura pode despertar, mas acredito que a melhor delas, sem dúvida, seja a de instigar a imaginação. Ler é uma forma imaginária de se viver e talvez por isso seja tão prazerosa. Afinal, quem é que não gosta de dar uma “escapulida” do enfadonho mundo real e dar um pulinho na fantasia? Quando a leitura nos envolve, a imaginação flui, entramos na história e o resultado é exatamente o que Manguel destaca: fingimos que vivemos o que estamos lendo, de alguma forma experimentamos sensações que, novas ou não, produzem um efeito especial, que nos faz querer ler mais e mais. Em literatura chamamos isso de catarse, ou seja, uma sensação de intenso prazer proporcionada pela arte.


 O que você mais gosta de ler e por quê?
Tenho duas paixões: ler e escrever. Confesso que não sei de qual gosto mais, é certo que leio mais do que escrevo, mas tenho consciência de que para escrever cada vez melhor é preciso ler sempre. Sou apaixonada por Literatura desde a adolescência. Lembro-me que iniciei a memorização de poemas quando fui apresentada ao Romantismo pela primeira vez, no Ensino Médio. Quando criança gostava de ler os contos de fada na versão dos irmãos Grimm (temos até hoje a coleção completa), gibis, Os desastres de Sofia, vários livros da Coleção Vaga-lume e do Para gostar de ler. No entanto, minha relação com a leitura nem sempre foi pacífica. Na oitava série a professora levou-nos à biblioteca e pediu para que escolhêssemos um livro. Fui contrariada, eu não tinha o hábito de visitar outra biblioteca que não fosse a da minha casa. Então peguei o livro que achei mais detestável, em sinal de protesto. Após a leitura integral do livro tive que relatar a história do, até então, difícil Dom Casmurro. Mal sabia eu que o leria novamente na Universidade e em seguida por puro prazer.
Atualmente leio muito livros de Literatura Infantil, pelos quais sou inveteradamente apaixonada. Acredito que sou motivada a ler por vários motivos, mas o principal deles é a necessidade de renovação. É como se a cada leitura algo novo se instaurasse, uma ideia, um vislumbre, uma vontade ou um suspirozinho, qualquer coisa é suficiente para que eu recarregue as energias e prossiga com a difícil, porém instigante, missão de viver. Ler me faz reviver. A leitura já me resgatou muitas vezes, devo muito a ela! 

 Quais as dicas para pais quando forem comprar livrinhos para seus pequenos? 
Não pensar como “gente grande”. As crianças não leem tudo o que gostaríamos que elas lessem, por isso é importante respeitar o gosto delas, caso contrário, ao invés de se incentivar a leitura pode-se reprimi-la. Por isso, é importante possibilitar que a criança manuseie o livro, que o sinta, para que se possa observar de qual tipo de livro ela gosta mais. Na compra do livro é interessante levá-la junto ou observar bem suas preferências, para não “errar” na escolha. É claro que, conforme a idade, elas apresentam preferências distintas. Quanto mais novas, mais as ilustrações e o material do livro as encantam. Mas não se enganem! A partir do momento em que elas estão alfabetizadas, o interesse pela leitura desperta-lhes também o interesse pelo texto. Quando o assunto é criança, é preciso sempre considerar que o universo infantil é diferente do adulto e, portanto, para entrar em um é preciso desvencilhar-se do outro e vice-versa, ainda que por alguns instantes apenas.


Quais as dicas para professores para servir-se da leitura como estratégia para o aprendizado escolar? 
Pergunto-me com frequência como posso ensinar aos outros a gostar de ler. Ao formular as estratégias na mente, resolvo o problema em apenas algumas aulas recheadas de leitura. Mas na prática não é bem assim que acontece. Adoraria ter milhares de fórmulas infalíveis para apontar aos colegas professores, mas infelizmente a magia da leitura ainda não me revelou o segredo. Enquanto não descubro a mágica certa, tenho procurado desenvolver estratégias simples como possibilitar aos alunos o contato com a leitura, desde uma visita periódica à biblioteca (com liberdade total para a escolha de livros) à leitura dos mais variados tipos de gêneros textuais. 
O criativo e simpático ilustrador e escritor Ziraldo advertiu certa vez “Ler é mais importante que estudar”. Sinto que falta espaço na escola para ler por prazer, ler por apenas ler. O momento da leitura deveria ser mais praticado dentro do ambiente escolar, desde as bases até o ensino superior. A biblioteca, o quarto, a sala, enfim, qualquer lugar pode ser apropriado para a leitura, desde que se consiga resgatar um hábito, muito raro no mundo da multifuncionalidade, PARAR PARA LER. Eis o que considero o maior dos desafios quando o assunto é leitura, reeducar o leitor internauta que lê milhares de textos ao mesmo tempo, mas não internaliza nenhum deles. Enfim, se a missão de formar leitores já era um desafio antes da internet, depois disso ela ganhou proporções ainda maiores. Pode até ser que se leia mais depois que o mundo virtual passou a fazer parte da vida humana (há uma série de artigos que comprovam isso cientificamente), mas até que ponto quantidade é sinônimo de qualidade? Não vejo outra saída para isso senão integrar a internet à educação ao invés de tentar diabolizá-la, sugerindo aos alunos, por exemplo, a elaboração de blogs de leitura e escrita, a participação com comentários em sites e blogs de qualidade, ou mesmo a colaboração com o registro escrito virtual de obras clássicas. Enfim, atualmente o professor tem a opção de acumular mais uma função, dentre as várias que já lhe cabem: unir a leitura virtual à impressa. 
Seja qual for sua opção de leitura para hoje, desejo apenas que faça BOAS LEITURINHAS! 

3 comentários:

Anônimo disse...

Adorei a entrevista com a Carla!! Ela é realmente maravilhosa e seu jeito de lidar com a literatura é simplesmente fabuloso!
Tive a oportunidade de presenciar momentos divertidíssimos com a Carla, seu personagem Estereobaldo e as crianças. É sempre fantástico!!
Parabéns pelo belíssimo e contagiante trabalho!
Regiane.

Fonoaudióloga Kátia Bianchi disse...

Oi Regiane
Obrigada pelo comentário!
Também acho a Carla super competente e foi uma alegria tê-la aqui conosco no Lugar da Fala.
Seja sempre bem vinda por aqui!
abraço

LEITURINHAS disse...

Aí vai um agradecimento duplo: a Regiane pela amizade e compartilhamento do desafio de instigar a leitura em um país que dá pouca importância a isso; a Katia pela oferecer a oportunidade de escrever sobre um tema que muito me agrada!
Esse é realmente o LUGAR DA FALA.
Abraços e sucesso às duas!

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