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segunda-feira, 19 de novembro de 2007

A imigração no Brasil e a Fonoaudiologia

“É a partir da linguagem que os seres sociais de condições de vida diferentes e desiguais intervêm na realidade. Nestas diferenças e desigualdades residem os limites e as possibilidades de fazerem-se conscientes e sujeitos de sua própria história, o que torna peculiar sua experiência” (BERBERIAN, 1995, p. 139).

A Fonoaudiologia surge em meio a um contexto de violência e segregação sociais presente no início do século XX, período marcado por tentativas de “uniformização da língua”. Nesse momento, destacava-se um crescimento urbano e industrial que trazia consigo mudanças nas relações sociais caracterizadas, principalmente por variações culturais advindas dos imigrantes e de outras minorias brasileiras.
Um dos aspectos mais marcantes dessas diferenças, sem dúvida, era a variação dialetal, vista como “uma ameaça à integridade da nação”. Essas diferenças lingüísticas que transmitiam principalmente traços culturais dos imigrantes e dessas minorias das mais diversas regiões do país, passaram a ser uma preocupação dos setores governamentais, pois nesse período, observa-se uma forte idéia em manter os padrões nacionais. Diante dessa meta, a língua foi o principal alvo e a escola e a imprensa, os principais meios utilizados para “banir” com quaisquer diferenças lingüísticas ou culturais. No ensino primário, por exemplo, era proibido o uso da língua estrangeira.
E foi a partir dessa preocupação, isto é, em “uniformizar a língua” é que surgiram os primeiros profissionais que auxiliariam os educadores nesse processo. Foi também nesse contexto que a fonética e a lingüística, de modo geral, destacaram-se com diferentes estudos sobre o uso da fala e da escrita, no sentido de impor um padrão correto para tais usos.
É claro que frente a essas imposições e exigências, os imigrantes encontraram muitas dificuldades. Ao chegar num país diferente, com costumes e cultura totalmente diversos da nação de origem, tiveram como desafio comunicar-se com os habitantes locais, além de adaptar-se ao cotidiano do novo lar. O uso das linguagens oral, corporal e gestual foi um recurso não só útil para a comunicação, mas fundamentalmente para a socialização destas pessoas.
Aprender a falar um idioma diferente não deve ter sido tarefa simples, especialmente para adultos e idosos que jamais haviam entrado em contato com a língua portuguesa. Assim, surgiram as variações lingüísticas decorrentes de dificuldades, como: incompreensão do que ouviam; tentativas de articulação aproximada de fonemas e generalizações gramaticais equivocadas (ex: eu ponhei ao invés de eu pus, no pretérito perfeito, embora no tempo verbal presente a conjugação correta é eu ponho ).
Com o passar do tempo, a convivência com a população local e a proximidade com os grupos diminuíram estas diferenças. No entanto, ainda podem ser observadas características peculiares dos imigrantes, que ainda marcam a permanência da diversidade oriunda dos saberes e práticas de outros povos.
Isso indica também que embora tenham sido reprimidas inicialmente, as manifestações culturais desses povos forma e ainda são passadas para futuras gerações.

Texto de Jáima Pinheiro de Oliveira e Kátia Bianchi publicado em Exposição sobre imigrantes na região de Palmeira

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